Ele voltou de uma sessão de cinema, que fora com
primos. Despediu-se da prima e do primo e foi para um bar, onde todas as noites
encontrava alguns amigos. A visita ao bar foi rápida – apenas para manter o
costume – e antes da uma hora ele já estava em casa: um prédio de apartamentos
novo, recém-inaugurado. Estava completamente lúcido, pois não costumava beber
em demasia. Chamou o elevador que estava parado no terceiro andar e esperou.
Nada. Tornou a chamar com certa impaciência. Nada. Como ele morava no quinto
andar, resolveu subir as escadas. Àquela hora da noite ninguém mais estava
acordado para ficar segurando a porta de um elevador. Imaginou que a porta não
tinha sido bem fechada e por isso ele não saía do lugar. Achou curioso que as
luzes do terceiro andar estivessem apagadas. Isso não chegava a incomodar, pois
uma certa claridade vinha do segundo e do quarto andares. Quando chegou perto
do elevador para verificar se o problema era realmente a porta mal fechada, percebeu
que um vulto se aproximava. Abriu a porta do elevador e acendeu um fósforo (a
luz do elevador também estava apagada). O vulto já estava bem perto dele, mas
não era um morador do prédio, como tinha pensado. Não era sequer um mortal,
pois não tinha rosto. Com a rapidez do pensamento ele desceu as escadas e foi
parar – quase sem fôlego – na calçada. E coragem para voltar? Voltou. Tinha que
voltar. E nada aconteceu. Já em casa contou tudo aos seus pais que resolveram
investigar o caso. Ficaram sabendo então que quando o prédio estava sendo
construído, um operário tinha se enforcado justamente no terceiro andar.
Caso enviado à redação da revista Planeta por leitor
e publicado na coluna ‘Casos Malditos’ da edição de Junho de 1974.