sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Estranho e Extraordinário



A Vingança do Soldado


Em 1949...

Luciano, 22 anos, era soldado da 4ª Seção da 5ª Companhia da Legião Estrangeira, que era composta de 25 homens, na maioria alemães, poloneses e franceses. Luciano era muito bonito e possuía uma voz esplêndida, o que o fazia invejado pelos seus companheiros. Essa inveja aos poucos se transformou em ódio, que se manifestava em brigas diárias.

Depois de muitas intrigas, Luciano passou a ser perseguido pelos oficiais que o escalavam diariamente para as patrulhas mais arriscadas. Com a vida sempre em perigo, ele ainda participava das marchas forçadas, além dos combates aos guerrilheiros e das caças aos rebeldes. Depois de uma dessas expedições ele voltou com os pés sangrando e mesmo assim não conseguiu uma visita ao médico: a intenção era privá-lo de qualquer espécie de repouso.

Certo dia, atacado de uma crise de paludismo, ele ingeriu uma forte dose de quinino para baixar a febre. Pela primeira vez Luciano recusou-se a participar de uma patrulha e pediu uma licença médica. Como resposta foi amarrado completamente nu, no meio do pátio, exposto ao sol, sem receber água. No fim do dia Luciano foi libertado. Arrastou-se até sua tenda, colocou a cabeça na água e planejou a vingança. Foi para o alojamento, apanhou uma metralhadora e atirou no primeiro soldado alemão que tentou impedir sua saída. Quando surgiu no pátio de metralhadora em punho, todos fugiram desesperadamente e se esconderam. Vendo que o sargento e o cabo, seus maiores inimigos, tinham corrido para o banheiro (um cubículo de bambu), Luciano descarregou a metralhadora naquela direção. Julgando-se vingado ele correu para o alojamento, apanhou um fuzil e disparou contra sua própria cabeça. Passado o pânico, descobriu-se que havia apenas um morto: Luciano.
No cemitério militar de Locud seu caixão passou por cima do muro para evitar o portão principal; sua cruz não tinha nada escrito e seu capacete não foi colocado sobre seu túmulo.

Oito meses depois a fileira onde Luciano estava enterrado foi completada e abriram a primeira cova de uma nova fileira, que ficaria exatamente aos pés do morto. A partir desse momento fatos estranhos começaram a acontecer. No mesmo dia da abertura da cova o tenente da 5ª Companhia foi assassinado. Dois dias depois o sargento e o cabo foram mortos com flechas envenenadas. Uma semana mais tarde, quando terminou a guerra de Madagáscar, os 21 restantes morreram todos de uma só vez em um desastre de caminhão. Na fileira de covas, aos pés de Luciano, foram enterrados seus 24 inimigos.

Planeta, janeiro de 1973.



3 comentários:

  1. Boa tarde Aline.. adoro estas tuas postagens sobre fatos que nos fazem pensar.. muitas coisas acontecem ao nosso redor..
    a vida tem muitos mistérios e estes a gente é melhor nem querer saber né srs bjs e até sempre

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  2. Que vingança; Mesmo depois de morto o cara conseguiu liquidar a companhia.

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  3. Vingança pura mesmo!
    Coitado , só por ser lindo incomodava os companheiros, a verdade é que a beleza muitas vezes incomoda mesmo, e as pessoas são até perseguidas como ele foi, mas esta vingança foi dura!
    Bjus e bom final de semana!
    Ótimo texto, como sempre!
    http://www.elianedelacerda.com

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