segunda-feira, 5 de maio de 2014

Para Sempre



Jane e Harold se conheceram na adolescência. Harold se apaixonara por Jane à primeira vista. Mas demorariam dois longos anos até que ele tivesse coragem de pedi-la em namoro. O medo de ser rejeitado pelo grande amor de sua vida o impedira até que se tornasse insuportável seguir adiante sem o pedido. Quando finalmente o pedido foi feito, Jane mal pode acreditar. Esperara por aquele pedido desde que conhecera Harold!


Depois de apenas dois anos de namoro Jane e Harold noivaram! Não havia porque esperar mais! Ambos tinham certeza de que seu amor era eterno! Repetiam incessantemente todos os dias as juras de que estariam juntos para sempre!
A festa de noivado foi simples, pois tinham condições econômicas humildes.
Jane e Harold estavam mais felizes do que nunca.

O casamento também não tardou a acontecer. – Um ano após o noivado.

O padre hesitou e um pouco contra gosto, aceitou que os noivos substituíssem o tradicional “até que a morte os separe”, pela jura preferida do casal: “Para sempre”. E assim se fez! Juraram sacramentalmente amarem-se, respeitarem-se na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, para sempre!

O casal vivia de modo simples, mas muito feliz. Após todos esses anos ainda repetiam inúmeras vezes que eram um do outro para sempre.
A vida simples não era motivo de infelicidade.
Harold conseguira emprego distante de onde moravam e, por questões de economia, ia e voltava do o trabalho de bicicleta, gastando cerca de duas horas no percurso.
Harold chegava do serviço por volta de meia-noite. Jane o esperava ansiosa todas as noites.

Até que uma tragédia aconteceu. Em uma noite, quando Harold pedalava pelo trecho da estrada interestadual por onde passava em seu trajeto de volta, um motorista de caminhão, exausto pelo excesso de horas de viagem, cedeu ao sono, dormindo ao volante. Harold não tivera sequer tempo de identificar o que foi o clarão que tão repentinamente surgira diante dele! Eram os faróis do caminhão.

Ambas as famílias, as de Harold e Jane compareceram ao enterro simples e tão tocante. Jane passou os dias seguintes entregue às lágrimas.

Algumas noites depois, Jane dormia no antigo quarto e cama do casal, quando foi acordando, sentindo-se abraçada. Ainda em um estado de sonho misturado com a realidade, disse o nome do amado marido morto, ouvindo “Jane” como resposta. Sentia o abraço e as carícias de Harold! Até que se viu sozinha no quarto! No entanto, ainda sentia seu corpo sendo tocado! Viu também partes do colchão afundar, como se houvesse alguém com ela! Jane sentiu medo, mas não se levantou. Algo frio parecia deslizar pela pele arrepiada de Jane, que, apesar do medo, acabou por se deixar dominar. Jane cerrava as mãos segurando os lençóis e arqueava suas pernas enquanto gemia de prazer.

O que passou a se repetir todas as noites, sempre à meia-noite, o horário em que Harold costumava chegar do trabalho quando vivo.

Jane passou a esperar a meia-noite. Todas as noites quando o horário se aproximava ela tomava um demorado banho, se perfumava e vestia seu mais bonito lingerie, como quem esperava o amado marido.


Jane não quis mudar nada em casa, mantendo tudo como era e onde estava quando Harold ainda era vivo.

Muito após o período que se convenciona manter luto, Jane continuava devotada à memória do marido morto.

Passado ainda mais tempo as pessoas comentavam que Jane se entregara muito cedo à viuvez. Afinal, era ainda jovem e bonita, além do que, o casal não chegara a ter filhos.
Alguns opinavam que a morte trágica e precoce de Harold a abalara em demasia, enlouquecendo-a.

“Como pode? Manter as coisas do defunto no mesmo lugar até hoje, depois de todo esse tempo!”.

Passado mais algum tempo começaram as fofocas no bairro sobre a jovem viúva. Havia os que diziam que ela deveria estar envolvida em um relacionamento que não poderia ser assumido.

“Ela é muito jovem e bonita para estar casta desde a partida do defunto!”.

A curiosidade dos vizinhos os levou a futricar em torno da casa. Vizinhos espiavam pelas frestas das janelas, passavam pela rua tentando ver ou ouvir o que a viúva fazia. Logo a espionagem gerou a notícia:

“Sempre à meia-noite se ouve a viúva gemendo como quem pratica o coito!”.

Isso por um lado reforçou as suspeitas de que Jane se envolvera com algum homem casado.

“Se encontram às escondidas todas as noites!”.

Mas também os mais supersticiosos e dados a crer em espíritos, formularam sua tese:

“É como se espírito do defunto a visitasse todas as noites!”

“Eu não duvido de que seja a alma penada do moço”...

As vizinhas futriqueiras deram conta de habitualmente verem Jane com a luz acesa, sempre perto da meia-noite se arrumando!

“Tá vendo? É para receber o amante!” – diziam uns.

“É para a alma penada do defunto!” – outros diziam se benzendo.

Como nunca se conseguia flagrar um suposto amante, o que acabou prevalecendo foi que, macabramente, a jovem e bela viúva recebia a alma do defunto, que sem se dar conta da própria morte assombrava a casa todas as noites à hora que em vida costumava chegar do trabalho.

O que nunca houve, foi quem tivesse coragem de tocar no assunto com Jane.

Jane mantinha a devoção e obsessão pelo marido morto. Em casa porta-retratos eram verdadeiros altares à memória de Harold. E todas as noites ela cumpria o estranho ritual de esperar pelo marido e se entregar ao prazer em sua cama.

Mas depois de alguns anos Jane não suportava mais a ausência de Harold. Durante a noite passou a esperar a meia-noite em choro e pedia incessantemente à alma do marido:

“Leve-me, meu amor! Leva-me para junto de ti! Essa vida aqui já me é insuportável! Leve-me contigo, meu amado Harold!”

Poucos meses depois Jane foi diagnosticada como tendo “uma doença rara, ainda desconhecida”. Os médicos se esforçaram, mas Jane não melhorava. Além do que, não tomava os remédios, secretamente jogando-os fora. Sua doença era Harold que atendia ao seu pedido, tomar os remédios seria trair seu amor!

Não demorou e Jane veio a falecer. E por muito tempo a antiga casa do casal permaneceu vazia.

Algumas pessoas juram que após a morte da viúva, quando se passava próximo a casa era possível ouvir o casal fazendo amor repetindo:

“Para sempre!”.


4 comentários:

  1. É uma mistura de tela quente com sessão da tarde? xD
    Gostei! Fiquei achando tudo lindo e maravilhoso no começo, <3 logo depois a tensão tomou conta :|
    Os vizinhos fofoqueiros!!! Ai... Parecem os daqui da minha cidade (xD)
    Beijos :******

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  2. Que show!
    A viuvinha se manteve fiel "para sempre".
    Bjs

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